quarta-feira, setembro 21, 2011

A minha primeira vez em Marrocos – Nador – Taouz

Terça -feira 08-06-2010

Zarpámos de Algeciras por volta das 19:00, e embora a distância até Nador em linha recta fosse de apenas 250 km, a viagem duraria 11 horas.
Depois de arrumarmos o maquinão, foi tempo de subir ao deck 7 e por lá ficámos. Era necessário cumprir as formalidades alfandegarias e lá fomos mostrar primeiro os nossos passaportes a um funcionário marroquino e depois os documentos da viatura a outro funcionário. De notar que este escritório improvisado foi montado junto ao bar....foi bem visto...

Tratadas as formalidades e dada a proximidade do bar, lá nos vimos na obrigação de degustar uma cerveja fresquinha. Foi nesta altura que o Hélder Rodrigues se veio sentar na nossa mesa a preparar o Road-book do dia seguinte. Impressionante a simplicidade e simpatia deste grande campeão, pois não nos conhecendo de lado nenhum, e tendo de preparar o Road-book, não deixou de satisfazer a nossa curiosidade relativamente a alguns aspectos da prova e da sua carreira.
Depois desta amena cavaqueira fomos jantar a um dos restaurantes do navio, foi o primeiro contacto com os sabores Marroquinos. Aproveitámos também para ir ouvindo o Orlando a dar o briefing aos pilotos. Tudo servia para irmos ficando mais enquadrados com o que nos iríamos deparar nos próximos dias.
Deck 7
 Depois de jantar tivemos nós o nosso briefing, onde recebemos os Road-books e o Plano de Segurança para as etapas Marroquinas, acertámos os locais e horários de montagem dos CP’s e tomámos nota de tudo aquilo que nos poderia vir a ser útil.

Quarta-feira 09-06-2010

Depois de tudo tratado e acertado começamos a pensar onde iríamos dormir...
Lá encontrámos umas poltronas, que até faziam o sono desaparecer, e entre mais umas idas ao bar e teimar ficarmos sentados nas poltronas... o sono levou a melhor mas já bem pela noite dentro.
Por volta das seis da manhã chegámos a Nador, foi altura de tirar a ramela dos olhos e ir ver a atracação do navio. Já era dia e estávamos mesmo ansiosos de ver esta nova realidade.
Atracado o navio, foi altura de voltarmos ao nosso maquinão e começar aquele que imaginávamos vir a ser um dia comprido.
Assim que saímos do navio e ainda dentro do porto fomos recebidos desta maneira.
Folclore local

Bolinhos e chá



O pequeno-almoço veio mesmo a calhar e foi a nossa estreia a provar os deliciosos chás que viemos a repetir assiduamente.

De Nador 35°16.017’N, 2°55.725'W ao nosso destino de hoje, Taouz, eram aproximadamente 820 km. Iríamos passar por Oujda, Ain-Beni mathar, Tendrara, Bouarfa, Bouânane, Errachidia, Erfoud, Rissani, Merzouga, e por fim Taouz, onde iríamos montar o CP em 30° 54.693’N, 3°59.453'W.

Logo à saída do porto e mesmo com o jipe em andamento fizemos o nosso primeiro negócio. Iam dois rapazes com dois sacos de gelo moído daquele mesmo bom para pôr nas geleiras....parecia uma miragem. Meio francês, meio português, mais gesto, menos gesto, comprámos os dois sacos de gelo por 1 €, bom negócio achámos nós.
Mais á frente paramos numa bomba e vá de atestar os 7 carros, era este o número de viaturas do nosso grupo. Atestar sete jipes, só com um funcionário e a ter de passar facturas para todos, demorou o seu tempo, mas tudo se resolveu e fizemos-nos á estrada.

As Ruas engalanadas
Durante uns bons km fomos vendo as ruas todas engalanadas com bandeiras e com fotos do Rei, acho que este vinha, ou tinha vindo recentemente a Nador. Quanto mais íamos andando, mais cenas caricatas íamos vendo, desde carros bem antigos a camiões de marcas que nem pensávamos existir, íamos vendo de tudo um pouco.
Até que começaram a surgir as barreiras policiais Nunca nos mandaram parar, mas de 20 em 20 Kms…lá aparecia mais uma. Grande aparato, cães, uns seguros pelos policias, outros ainda numas barracas mesmo á beira da estrada, correntes de pregos esticadas em meia faixa, enfim havia de tudo.
Um pouco mais á frente entendemos o porquê daquilo tudo: vimos sair um Renault Fuego, sim leram bem, ainda existem, de uma estrada de terra, todo empoeirado e sem matrículas. Ultrapassou-nos, e na próxima barreira…lá estava ele parado.
O trajecto por onde fomos não era o mais curto, mas era aquele que nos fazia circular numa parte dele, bem próximo do SS deste dia, e julgo eu que foi este o adoptado para andarmos próximos da especial, pois passámos bem perto do inicio,( 33° 58.947'N 02º21.205W) seguimos quase paralelos, e passámos mesmo no final ( 32º15.670'N  2° 26.245'W).






Paragem em Bouarfa para almoçar, foi mesmo em cima do capou dos jipes e foi a estreia do atum com feijão-frade, mas …estava mesmo apetitoso… Claro que cada vez que parávamos tínhamos de atestar, e era a demora do costume, sem contar com outras paragens, umas para café, outras para satisfazer necessidades…bom o ritmo não estava famoso mesmo.

Mas por volta das 5 da tarde chegámos a Errachidia. Escusado será dizer que o pessoal estava em baixo, uma noite mal dormida e todo o dia a andar de carro, dá cabo de qualquer um, e pensar que ainda faltavam 150 km até ao destino também não ajudava a levantar o moral.

Chegamos ao bivouac antes dos concorrentes e tivemos o “privilégio” de inaugurar os balneários. Um banho e roupa lavada depois de dia e meio teve o condão de levantar o moral á rapaziada.

Banho tomado, fomos ao posto de comando saber se havia novidades, e foi aqui que o Orlando fez a boa acção do dia, disse ele:

- Não há necessidade de irem dormir ao CP, aquilo é um bocado no meio do nada.

- Francisco liga para o teu amigo Hassan e marca quartos para este pessoal…

- Dormem no Erg Chebi e de manhã vão lá ter.

Bem…nunca gostei tanto de o ouvir...

Logo de seguida travámos conhecimento com dois marroquinos, tinham por missão servir os chás, bem no meio do bivouac e junto ao recinto onde iria ser a actuação dos grupos tradicionais. Para além do dono da loja onde fizemos as compras á hora de almoço e com quem só trocámos breves palavras, quer dizer…foram mais gestos…, com estes tivemos oportunidade de conversar um pouco. Viviam em Errachidia, dedicavam-se ao turismo, falavam inglês, espanhol, italiano, francês, e mais não sei o quê…

Compre no comércio local...

Conheciam Portugal e o Casino Estoril…acabámos por lhes oferecer umas camisolas da prova e bebemos uma cerveja com eles, gente simples e simpática.
Com isto tudo começamos a ver a tenda do catering preparada para servir refeições e foi o que fizemos. Todo o grupo foi jantar, ainda era cedo, mas…melhor do que ali não devíamos encontrar.

Bivouac de Errachidia

Bivouac de Errachidia

Saímos de Errachidia já de noite pela N13, e embora fosse de noite as poucas luzes que víamos, davam a entender que circulávamos paralelos a um rio, e a um oásis bem grande. Viemos posteriormente a saber que era o Rio Ziz. Passámos á porta do muito conhecido Kasbah Hotel Xaluca, e seguimos até Erfoud e Rissani. Daqui seguimos para Merzouga e pelo caminho parámos um bom bocado para o chefe de zona ir levar o pessoal que ia ficar no CP1 e os médicos ao local. Custou a passar esta meia hora ou mais que ficámos ali plantados…
Rissani by night
Quando o Calhau regressou continuamos viagem, e quando vimos a tabuleta a dizer Kasbah le Touareg, sentimos que valeu a pena termos ficado á espera…íamos dormir num sítio agradável.

Fomos seguindo até finalmente chegar a Taouz, toca a parar e a ver onde era o local do CP, o nosso GPS dizia que não era bem ali, era mesmo perto mas não era ali, mas àquela hora e depois do dia que tivemos,o discernimento já não era muito. Já que o chefe de zona dizia que era ali, marcámos o ponto, despedimos-nos do resto do pessoal e fomos direitinhos ao Touareg. Ainda eram 22 Km, era o que tínhamos de fazer mais logo pela manhã.

Chegados ao Touareg, ( 31° 5.165'N  4° 0.527'W ) estacionámos o jipe, dirigimos-nos á recepção, mas …não se via ninguém. Fomos entrando para o jardim interior e ficámos “parvos” com aquilo…grande jardim, algumas árvores,  estava o sistema de rega a funcionar o que dava uma grande frescura a tudo aquilo.

Le Touareg
 Olhando á volta, vimos a piscina e 3 vultos junto a ela, era mesmo o Hassan Ait Ali e dois funcionários. Fomos avançando, dissemos ao que íamos, e surpresa…um deles começa a falar português. Era mesmo um marroquino que falava português e tinha um apartamento na Buraca… e esta? Como dizia o outro…

Perguntamos se bebiam uma cerveja, a geleira ainda tinha, ao que eles disseram que sim, e foi já de mini na mão que fizemos um bom serão. Estávamos nós em amena cavaqueira quando ouvimos, alto e bom som:

- Ó Hassan tens uma espingarda?

- Os grilos não me deixam dormir…

Le Touareg

Era mais um portuga bem-disposto e cliente habitual. Desta vez tinha vindo propositadamente para ver a prova. A conversa é como as cerejas e às tantas o António percebe que ele e este novo companheiro tinham feito o Portalegre de moto no mesmo ano. Pronto, aí é que a conversa animou mesmo, mas por mais pouco tempo, o dia tinha sido bem longo e tínhamos de acordar cedo, e alem de tudo o mais …o corpinho estava mesma pedir cama…

Sem comentários:

Enviar um comentário