sábado, setembro 24, 2011

A minha primeira vez em Marrocos – Marrakech - Almada

Domingo 13-06-2010

Hoje era o dia do regresso a casa. Estávamos a 1200 Kms de distância, por isso levantámo-nos cedo, queríamos apanhar o barco das 13:00 horas em Tânger. Pequeno-almoço no hotel, fomos atestar, aproveitamos também para dar uma lavadela aos faróis e vidros e ver a pressão dos pneus do maquinão, e vamos embora que se faz tarde.

Foram 600 Kms chatos, só paramos para voltar a atestar e para pagar portagens, e embora se pagasse pouco, as portagens sucediam-se.
Saímos de Marrakech pela N9, entrámos na A7, perto de Casablanca entramos na A5, de seguida foi pela A3, nesta altura íamos bem perto do mar, e íamo-nos apercebendo de outra realidade. Muita habitação, estâncias balneares e outro tipo de pessoas, tanto habitantes, como passeantes.

Passamos por fora de Rabat e entramos na A1, continuamos bem á beira-mar, até se sentia o cheiro do mar. Passamos Larache, Asilah, e por fim Tanger. Eram 12:30, estava tudo a correr bem para apanhar o barco pretendido.
Tínhamos viagem marcada, foi só dirigirmo-nos á agencia e dar a matricula do carro para nos darem o passe.

- Só isto para nós 3 e para o carro?
- Sí, es todo.

Passamos á Alfandega, não nos revistaram o carro, mas não deixaram de bater com o cabo de uma chave de fendas nos pneus, fundo, depósito e mais não sei onde…
Arrumamos o jipe no parque e foi então que chegou a má notícia. Por não haver número suficiente de passageiros, este barco foi anulado e agora só às 15:00 havia outro.


Bem…só nos restava irmos almoçar, junto ao mar um peixe até que ia cair bem. E começámos a perguntar: où manger du poisson?

A resposta foi célere, num restaurante no porto de pesca: poisson bon et pas cher.

Foi mesmo aí que fomos e deparamos com um restaurante com esplanada, aliás, dentro de casa era só a cozinha, só se comia na esplanada, e que parecia familiar, isto porque se viam famílias com crianças. Sentámo-nos numa mesa e após breve troca de palavras, foi-nos sugerido uma fritura mista. Posta a toalha de papel, ainda por cima da anteriormente usada e que apresentava ainda restos da refeição anterior….chegaram os camarões fritos. Era uma travessa com camarões fritos e temperados com umas ervas que lhes davam um sabor exótico e extremamente agradável. Seguiram-se as bebidas, e fomos esperando pelos pratos, talheres e guardanapos, mas como estava mesmo a demorar muito…observámos como faziam as outras pessoas. E nós fizemos como os outros, levantámo-nos e fomos buscar umas folhas de papel que estavam espetadas num arame e eram esses papéis rasgados á mão que faziam de guardanapo. E para comer …não se usavam pratos, tirava-se da travessa, comia-se á mão e deixavam-se os restos em cima da mesa. Bem…como pessoalmente nunca tinha acompanhado camarões com água, interpretei aquilo como mais uma novidade. Quando chegou o peixe frito, sem acompanhamento, mas bastante variado, onde se incluía lulas, linguados, cantaril, entre outros que não identificámos, os pratos e talheres continuaram a não aparecer, mas aí…já nós estávamos acostumados.

Terminámos com um chá, o ultimo, pagamos 16€ e rumamos ao porto.

Este barco já tinha clientes e às 15 em ponto zarpámos para Tarifa, a viagem foi rápida, ainda deu tempo para uma soneca e um ultimo adeus a Marrocos.



A passagem pela fronteira de entrada em Espanha foi bastante rápida, e sem buscas, nem batidas no carro, e rapidamente continuámos viagem, ainda faltavam mais 600 Kms até casa. De Tarifa fizemos o caminho inverso da ida até Sevilha e aqui seguimos pela A 66 para entrarmos em Portugal por Rosal / Ficalho. Antes de aí chegar ainda parámos no inicio da estrada de Aracena, onde atestamos pela ultima vez e aproveitamos para fazer um lanche ajantarado. Comemos uns petiscos típicos espanhóis e bebemos umas cañas, que souberam devidamente. Divertimo-nos com as curvas de Aracena, entramos em Portugal e por volta da meia-noite chegamos a casa, cansados mas de papinho cheio como costumamos dizer.

Havemos de lá voltar…Inshallah...

Notas finais

1- O nosso agradecimento ao Jaime Santos e ao Orlando Romana por nos terem proporcionado esta experiência.

2- O maquinão andou 5000 Kms e portou-se mesmo bem, muitos depósitos de gasóleo, mas nada de óleo, água, furos, atascanços…maravilha mesmo.

3- Obrigado aos companheros de viagem, ao António e ao Miguel por terem paciência para aturarem as minhas "madurezas".

sexta-feira, setembro 23, 2011

A minha primeira vez em Marrocos - Lago Iriki - Marrakech

Sábado 12-06-2010

Programa para hoje: montar o CP 2 no Lago Iriki e depois rumar a Marrakech. Coisa para 400 Kms, dos quais 70 em pista até Foum-Zguid, depois era “só” atravessar o Atlas, e estava feito.
O primeiro a acordar foi o António e aproveitou para fazer um “auto-retrato”


Os restantes acordaram com o som de um helicóptero, era o Orlando que não sabia de nós, e vinha ver se tínhamos conseguido cá chegar.


Isto de acordar nesta imensidão…é obra, e todos ficamos maravilhados com este sítio verdadeiramente espectacular.
Começamos por tomar o pequeno-almoço, daí a pouco chegaram os companheiros que vinham montar o reabastecimento, e fomos também nós começar a montar o controlo.


O pessoal do reabastecimento


Tudo pronto, foi a espera do costume, devemos ter sempre tudo pronto uma hora antes da hora previsto para o primeiro concorrente.
Mais um pouco e chegam mais dois helicópteros, um era dos mikes e o outro..nem sei de quem era.



Com toda esta animação e barulho, o burro da casa, assusta-se e começa a fugir por aquela imensidão fora, e lá vai o mais novo dos nossos anfitriões a correr atrás do burro.
Foi altura do Calhau fazer a boa acção do dia, mete-se no jipe e vai apanhar o miúdo e mais tarde apanham também o burro. O mais engraçado é que daí a um bocado volta o Calhau sozinho e diz:
- Agora vou levar a carroça
Foi entre risada e bocas que atrelámos a carroça ao jipe, e lá foi o Calhau acabar a boa acção.

O apanha burros



Estávamos nós a olhar a ver se vinha algum, e eis que aparecem dois jipes só com condutor, param um pouco afastados e ficam á espera não sei de quê ou de quem.
Durou pouco para sabermos quem eles esperavam. Começamos a ouvir um avião e eis que ele surge a fazer passagens a baixa altitude sobre nós. Á terceira passagem, baixa mais um pouco e aterra junto aos helicópteros e aos jipes. Saem de lá uns turistas, metem-se nos jipes que tinham aparecido e foram embora. Era um pacote de um hotel de Marrakech que incluía um dia no deserto…











Finalmente começam a aparecer os concorrentes, toca a controlá-los, fazer parar as motos 15 minutos para reabastecer e os pilotos se alimentarem, e carimbar os carros e fazê-los seguir sem perda de tempo.










Começa a aproximar-se a hora de fecho do controle e os companheiros de viagem começam a ir embora, ficámos nós, os mikes e o pessoal do reabastecimento já estavam também a arrumar as coisas para irem embora.


Quando tudo acabou, restávamos nós, os mikes e o avião que por ali ficou estacionado á espera que os turistas voltassem


Começamos a ver os mikes preocupados com o caminho a seguir para sair dali, estavam com pouco gasóleo e até ao fim da pista ainda eram 95 Kms. Entretanto o António tinha estado na conversa com dois franceses que andavam a conhecer Marrocos, cada um no seu HDJ100, com grandes depósitos de gasóleo, e estes tinham-lhe dito que ali mais á frente havia uma pista secundária, que embora com bastante pedra e uns oueds bem fundos e inclinados, mas que era o mais curto trajecto para Foum-Zguid, e claro…foi mesmo por aí que fomos. Entrámos na tal pista, metemos as coordenadas de Foum-Zguid no GPS, aquilo fazia sentido e lá fomos nós com os mikes atrás. Realmente aquilo era mesmo só pedra, não dava para ir muito devagar, ainda era pior, e depois de arranjar aquele ritmo certo, foi sempre a andar.

Os oueds, dois, eram mesmo inclinados, e os ângulos de ataque e saída do maquinão não eram os melhores para aquelas trialeiras, mas com jeitinho e uns raspanços no chão lá passamos. Finalmente chegamos a Foum-Zguid, fomos atestar e encher os pneus, mas a pressão do compressor da bomba não passava dos 3 bar, bem estava quase bom, e era o que se podia arranjar, e com isto tudo, começamos a rumar a Marrakech. Ainda eram 325 Kms e tínhamos de atravessar o Atlas, mas já nos estávamos a ver na Praça Jemaa El Fna .

Os mikes estavam numa de ir a curtir a paisagem, pelo que nos despedimos, apanhamos o nosso ritmo e foi sempre a andar até Marrakech. Passámos por Lamhamid, Foum El Oued, Taznakt, Anzel, e chegamos a Marrakech. Foi bem interessante ver o Atlas, todas aquelas povoações á beira da estrada, mas aquilo era bem diferente do que de onde tínhamos vindo, muito mais virado para os turistas, mas engraçado, não nos esquecemos mesmo dos borregos mortos e pendurados á beira da estrada, uns cobertos com um pano, outros não, e de onde iam cortando as peças (mão, perna, etc.) que os clientes iam pedindo.

Foum-Zguid


Atlas

Atlas

Atlas

Atlas

Assim que entramos na cidade, assustamo-nos um bocado com o trânsito caótico, e encontramos o pessoal, andava tudo às voltas á procura do Hotel Atlas Asni.
Hotel encontrado, check-in feito, foi tempo de sair, desta vez fomos de táxi, e irmos ver a tal praça de que todos falavam.

Praça Jemaa El Fna .
Praça Jemaa El Fna .
A praça era mesmo o que tínhamos ouvido falar, animação constante, e desde encantadores de serpentes, magia negra, jogos de azar, há lá de tudo. Decidimos jantar numa das imensas barracas, quer dizer…restaurantes que todos os dias são montados e desmontados. Comemos bem, e fomos vendo que aquilo era só turistas das mais variadas nacionalidades. Provamos os caracóis, os espectaculares sumos de laranja, bebemos gengibre, enfim provamos um pouco de tudo. Acabamos com um café e uma cigarrilha num café num dos extremos da praça. Fomos dar mais uma volta no meio daquela gente toda, e foi aqui que fomos abordados por uma jovem que á força nos queria fazer uma pintura ou uma tatuagem, e mais á frente por um “puto” a pedir dinheiro. Bem chato este puto que andou mais de meia hora atrás de nós, e bem diferente de todos aqueles que tínhamos visto no meio do nada e que só queriam stylos.

Regressámos ao hotel, primeiro a pé, mas como não tínhamos levado o GPS…vimo-nos obrigados a ir de táxi. Não estava nada fácil descobrir qual era o azimute do hotel…
No quarto ligamos a TV e estava a dar boxe em directo da Praça Jemaa El Fna, e foi assim que adormecemos.

quinta-feira, setembro 22, 2011

A minha primeira vez em Marrocos – Zagora - Lago Iriki

Sexta -feira 11-06-2010

Foi com redobrada ansiedade que nos levantámos hoje, é que hoje o programa prometia mesmo. Iríamos ligar Zagora ao Lago Iriki, e tirando os primeiros 40 Kms iríamos seguir pela pista do SS9. Pelo caminho iam ficando os médicos e demais intervenientes para a etapa do dia seguinte. Nós iríamos até ao Lago, local de montagem do CP 2 do dia seguinte. Saímos do hotel e começámos por ouvir umas histórias do Tony Speed.
Tony Speed a contar estórias
Tudo pronto e  seguimos viagem. Saímos de Zagora pela N 12 para Foum-Zguid, e embora a N12 no mapa seja muito bonita, passado meia dúzia de Kms, acaba o alcatrão, e embora com bom piso, é em terra que circulamos.
N 12
N 12
N 12
Fomos seguindo até 30° 8.081'N 6° 12.323’W, onde saímos da N12 e entrámos no Road book do SS9 ao km 40,31.
A entrada na pista
Até chegarmos aqui o Marcão teve um furo no seu Pathfinder, pelo que regressou a Zagora, os restantes começaram a subir, e a deslumbrarem-se com a vista.
Começámos a encontrar camelos, miúdos com carroças, e nas horas de maior calor víamos o que os miúdos faziam…desengatavam o burro da carroça, o burro ficava de cabeça baixa, parecia que estava a pastar, mas não estava mesmo, só  havia ali pedras, e os miúdos aproveitavam a sombra debaixo da carroça. Vimos umas quantas cenas destas. Todos eles quando nos viam, aproximavam-se de nós e pediam “stylos”. Impressionante que nenhum pedia dinheiro, para que queriam eles as canetas???
Esta camioneta ia largando mantimentos em diversos cruzamentos
A progressão era lenta e entretanto estava na hora de almoço, e foi junto a uma escola e a uma mesquita que parámos. Não se via ninguém, e perguntámo-nos para que era a escola e a mesquita. A resposta chegou rapidamente. O sino da mesquita começou a tocar e um homem aparece á porta, munido de um megafone e começa a entoar uns cânticos. Começam a aparecer algumas pessoas. Reparámos depois que havia um pequeno oásis mesmo por trás da escola.

Não fomos á missa mas aproveitámos para inovar na refeição. Hoje não foi feijão-frade com atum, mas sim atum com feijão-frade. Como de costume soube muito bem.

O calor apertava, e rapidamente seguimos.


Cada vez o terreno ia ficando mais agreste e começámos a entrar na areia.

Até que chegámos ao local onde iria ser o CP1 29° 57.866'N 5° 44.472’W. Aqui estava agreste mesmo, tinha começado o vento e estávamos prestes a entender o que era mesmo uma tempestade de areia. Despedimo-nos do pessoal que ia ficar por aqui e já só estávamos 3 jipes que iam até ao Iriki, o nosso, o do Calhau e um dos Mikes (médicos).
Este pessoal que ficou no CP1 nem as tendas conseguiram montar, tal não era a ventania. Não lhes gabo a sorte, ficar dentro dos carros umas hora á espera que o vento acalmasse, não era mesmo coisa boa.

CP1 29° 57.866'N 5° 44.472’W
Faltavam ainda 88 Kms até ao nosso destino, mas a coisa prometia. A visão era curta, o vento e a areia no ar muita, de vidro aberto não dava para andar, de vidro fechado fazia calor. Pelo caminho ainda encontrámos alguém.





Até que começaram os atascanços, foi a seguir á nota do poço e da árvore 29º50.980 N 06º02.571 W. Toca a tirar pressão aos pneus e fomos poupados, do mesmo não se podem gabar os nossos companheiros.





Para ajudar á festa não atinámos com a saída certa de um oued, mais uns atascanços e o moral a descer rapidamente.
Depois de alguma indefinição, lá fizemos uma breve conferencia e decidimos ir só um carro descobrir onde era o próximo ponto e a melhor maneira de lá chegar. Como o nosso maquinão estava um autentico “papa dunas” fomos nós ver onde era o ponto.

Depois de umas voltas, lá demos com a coisa, voltamos para trás e todos juntos seguimos viagem.


A visão continuava bastante má, e foi mesmo á conta do GPS que íamos progredindo. Os Kms iam passando, já estávamos a circular no lago, mas do albergue…nem sinal.

- Faltam 2 kms, onde é o raio do albergue?
Esta conversa foi-se repetindo até faltarem 400 metros, aí finalmente vimos o albergue
E foi neste estado que lá chegámos, curiosamente daí a pouco parou o vento e pudemos usufruir da bela esplanada em pleno Lago Iriki 29º55 745N 06º25.685 W
Lago Iriki 29º55 745N 06º25.685 W
Lago Iriki 29º55 745N 06º25.685 W

Lago Iriki 29º55 745N 06º25.685 W

Depois de tirada alguma da poeira foi tempo de negociar o jantar, dormida e pequeno-almoço para 9 pessoas. Não foi com chá, mas sim com Fanta e Coca-cola bem fresquinhas. Curiosa a ideia que têm por aqui de um frigorifico…era mesmo um latão grande de plástico com água dentro, onde se mergulhavam as garrafas, e por fora forrado a serapilheira que se ia mantendo molhada. Como tal, o fresquinhas é exagero mesmo. Antes disso, eu e o António tínhamos tido um momento muito triste… dividimos religiosamente a ultima mini pelos dois. Falha grave do departamento de logística a requerer melhorias para a próxima.

Enquanto esperávamos pelo jantar foi altura de conhecer o albergue e descansar na esplanada.





Finalmente veio o jantar, uma tajine para desenjoar, e mais meia de conversa e começou tudo a ficar sem pilhas.
Faltava ainda uma surpresa, depois de todos nos estarmos a preparar para ir buscar os sacos cama para dormir, eis que começam a aparecer colchões, almofadas e lençóis, foi o fim de noite perfeito. Foi aqui que se montou a camarata.