03-08-2021
Lestrobe - Lestrobe 315 km
Este seria o primeiro dia em que iríamos percorrer a Costa da Morte e também deslumbrarmo-nos com o número e o tamanho das Rias. São as chamadas Rias Bajas, conhecíamos o nome, mas não imaginávamos a grandeza destes verdadeiros mares que entram pela costa, e que entre outras coisas, dão azo a que existam as centenas de viveiros de marisco que se podem observar em todas elas.
Começámos com uma ligação de quase 100Km para norte, mais propriamente até ao Farol Roncudo, onde iríamos começar a descer a Costa da Morte. Até lá chegar, não posso deixar de nomear os nomes de algumas das localidades por onde passámos, e que são algo fora do comum: Iria Flávia, A Escravitude, A Baña, As Antes, Zas, O Allo e por último, Cospindo.
Com isto tudo chegámos a Corme, onde registámos o Monumento aos percebeiros e seguimos por bonita estrada até ao nosso primeiro farol, o Farol Roncudo.
O nome Roncudo vem do barulho rouco que o mar faz ao bater nas falésias. A simplicidade do farol, construído em 1920, com 11 metros de altura, e os arredores rodeados por pedras de granito e uma paisagem acidentada, tornam-no ainda mais misterioso. As vistas panorâmicas da Ria de Corme e Laxe completam o conjunto.
É aqui em Roncudo o local onde muitos navios que navegaram por estas águas terminaram os seus dias e que não conseguiram sobreviver à Costa da Morte. E muitos desses naufrágios deram nomes às pedras que circundam o farol. Abaixo das cruzes que assinalam o local onde faleceram percebeiros, está o Petón do Millo ... porquê? porque um navio carregado de milho naufragou ali e alimentou toda a população durante meses.
São as histórias de vida desta Costa da Morte …
Apreciada a calmaria que hoje se fazia sentir no Roncudo, seguimos para Laxe e para a Praia dos Cristais. Para tal tivemos de contornar a Ria de Corme e Laxe e ainda a Enseada de Laxe o que mais que duplicou a distância a percorrer.
A praia dos Cristais deve o nome ao facto de que antigamente se utilizava o areal como aterro de objetos de vidro (garrafas, vasos etc.). As correntes marinhas fazem com que a erosão vá formando pequenos pedaços de vidro que parecem areias multicoloridas. É sem duvida uma praia diferente devido à singularidade da areia, chamemos-lhe assim.
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| rio Allóns em Ponteceso |
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| praia de Laxe |
Apreciada a Praia cheia de “vidros” seguimos para outro sítio que também nos despertava alguma curiosidade, tratava-se do Cemitério dos Ingleses. Para lá chegar tivemos que fazer alguns km em terra, mas valeu a pena.
Entre Punta do Boi e Punta da Cagada, um dos pontos mais fatídicos da Costa da Morte, ocorreram oito naufrágios e 245 mortos. Mas o mais trágico foi o do navio Serpente na noite de 10 de novembro de 1890.
Este navio de guerra partiu dois dias antes de Plymouth com destino a Serra Leoa. Aproximou-se muito de terra e a fraca luz do Farol de Vilán fez com que batesse no lugar que hoje é chamado de "o baixo da Serpente". Os golpes do mar varreram o convés. O desolado “Salve-se quem puder!” foi ouvido.
Dos 176 tripulantes, apenas 3 se salvaram. No cemitério estão sepultados 142, e os restantes 31 nunca apareceram.
No cubículo interior estão os restos mortais do capitão e dos oficiais e, no exterior repousam os marinheiros.
Continuando em terra, bem junto ao mar e com o Farol do Cabo Vilán à nossa frente, fomos seguindo até 43° 9.331'N e 9° 11.713'W, pois tínhamos lido algures sobre este banco, e tivemos que registar a coisa.
O próximo destino foi Muxia, localidade piscatória, que ganhou notoriedade por ter sido das mais atingidas pelo derrame de crude do navio Prestige. Em 19 de novembro de 2002, o Prestige, um navio-tanque carregado com 70.000 toneladas de combustível, partiu-se em dois na costa galega. O navio afundou causando as primeiras manchas de combustível que mais tarde se espalhariam, formando uma maré negra que provocaria uma das mais graves tragédias ecológicas da região. Só em setembro de 2004 as tarefas oficiais de extração de combustível foram encerradas. Para assinalar a tragédia foi confiada ao conhecido escultor de Burgos Alberto Bañuelos-Fournier a tarefa de levar a cabo a construção do monólito, de seu nome A Ferida. Foi o mesmo inaugurado a 12 de Setembro de 2003.
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| a pôr o dedo na ferida... |
Imediatamente antes da rampa de acesso à Ferida, encontra-se o Santuário da Virgem da Barca.
A história cultural de Muxia está ligada ao Santuário da Virgem da Barca e às pedras circundantes. Tem sido objeto de culto religioso ao longo dos séculos e de veneração pelos milhares de peregrinos que percorrem o Caminho de Santiago. A chegada ao Santuário torna-se a recompensa há muito esperada pelo esforço feito para chegar ao fim do Caminho, lugar onde a Virgem chegou num barco de pedra para encorajar o Apóstolo Santiago.
Isto de ver tanta coisa abre o apetite, pelo que escolhemos Muxia para continuarmos com a nossa dieta.
A tarde ia animada, faltava ainda ir ver o “fim do caminho” e foi já com ameaças de chuva que nos fizemos à estrada.
Chegamos a Finisterra já a chover, seguimos até ao cabo por movimentada estrada, e aproveitamos uma aberta do tempo para a nossa visita.
O cabo Finisterra é um promontório de granito com 3 km de comprimento e 600 metros de altura. O emblemático cabo obteve a distinção de Património Europeu em 19 de março de 2007, tornando-se um dos trinta bens escolhidos pela União Europeia como elementos com um "papel essencial na história e na identidade da Europa".
Localizado a cerca de 90 km de Santiago de Compostela, é destino final para parte dos peregrinos do caminho de Santiago. A tradição secular diz que o peregrino deve queimar algo que usou na sua caminhada na ponta do cabo, um ritual de purificação e renascimento. Ainda hoje o ritual é cumprido por muitos peregrinos, se bem que presentemente esteja oficialmente proibido fazer fogo no Cabo Finisterra.
A chuva ficou pegada, e como tal fomos andando nas calmas até Lestrobe. Amanhã há mais…se não chover!
Ficam o mapa e o filme do dia:
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